A IA está provocando revoluções reais na economia e nos mercados. Estudos sérios estimam impactos de trilhões de dólares em produtividade e PIB, ou seja, não é jogo de soma zero: a inovação cria novariqueza. No nosso setor, ela automatizará rotinas, recomendará carteiras e identificará riscos com precisão inédita. Mas o diferencial humano, relacionamento, enquadramento de objetivos, disciplina comportamental e capacidade de “ler” contextos, continuará sendo o núcleo do valor do assessor. Os ruins serão varridos; os bons terão superpoderes.
1) A nova macroeconomia da IA: trilhões em valor, produtividade e investimento
Relatórios de referência mostram a ordem de grandeza do que está acontecendo: a McKinsey estima que a IA generativa pode adicionar US$ 2,6 a US$ 4,4 trilhões por ano à economia global, só nos casos de uso já mapeados, elevando em 15% e 40% o impacto total de IA nas empresas.
A Goldman Sachs projeta que a IA pode elevar o PIB global em ~7% em uma década e expor ~300 milhões de empregos equivalentes a automação, o que pressiona tarefas, não necessariamente elimina profissões.
A PwC vai além: +US$ 15,7 trilhões até 2030 (≈ +14% no PIB global) se a difusão continuar.
Isso não é teoria distante: o AI Index 2025 (Stanford) mostra que o investimento privado em IA nos EUA atingiu US$ 109,1 bilhões em 2024, e o capital em genAI somou US$ 33,9 bilhões. Empresas de todos os portes estão usando IA (78% reportaram uso em 2024).
No lado “capex pesado”, a corrida de infraestrutura é gigantesca: TSMC reforçou guidance de receita graças à demanda de IA; Alphabet/Google anunciou US$ 24 bilhões em infraestrutura de IA; e o IMFatribui parte da resiliência do crescimento dos EUA em 2025 ao boom de investimentos em IA.
Tradução prática: dinheiro novo está sendo criado por inovação e necessidade não é soma zero.
2) O que já mudou em setores fora de investimentos (paradigmas quebrados)
•Logística: a UPS, com o sistema de roteirização ORION (IA/otimização), reportou economia recorrente de combustível (≈10 milhões de galões/ano) e centenas de milhões de dólares em custos.
•Saúde: IA em radiologia e medicina interna reduz erros diagnósticos e aumenta eficiência em estudos recentes (RCTs e revisões de 2024–2025).
•Ciências da vida: o AlphaFold (DeepMind) reconfigurou pesquisa de proteínas e acelera descoberta de fármacos; a versão 3 amplia previsões de interações biomoleculares.
Esses casos mostram o padrão: IA tira atrito operacional, libera talento para atividades de maior valor e abre mercados que antes eram inviáveis.
3) No mundo dos investimentos: automação, precisão e mais tempo para o que importa
Plataformas como o Aladdin (BlackRock) concentram dados, risco e execução, viabilizando gestão “whole portfolio” com análises cada vez mais assistidas por IA. Isso não elimina o humano eleva a barra do que um humano precisa entregar.
O que a IA fará cada vez melhor no atendimento:
•Triagem e onboarding (KYC, suitability, checagem de documentos).
•Rebalanceamentos e tax‐loss harvesting com gatilhos objetivos.
•Screening de ativos e sinais de risco (correlações, drawdowns, stress tests).
•Resumo de research e “tradução” de linguagem técnica para o cliente.
•Monitoramento proativo (alertas de eventos de crédito, drift de carteira, flagscomportamentais).
O efeito macro disso? Bancos e wealth managers já estão redesenhando processos com IA para produtividade, compliance e experiência do cliente.
4) O “alfa” do assessor que a IA não replica
A Vanguard quantificou o chamado Advisor’s Alpha: até ~3% ao ano em valor para o investidor, com coaching comportamental respondendo por uma fatia enorme desse ganho. Em tempos de ruído, alguém que mantém o cliente no plano e o plano dentro da realidade do cliente paga muitas vezes o próprio custo.
A evidência de comportamento é robusta: o estudo DALBAR (QAIB) volta e meia mostra o “gap” entre o retorno do investidor médio e o do mercado 848 pontos‐base de defasagem em 2024 nos EUA, por exemplo.
Em bom português: a tecnologia não vacina ninguém contra o pânico, a ganância e a procrastinação. O assessor excelente cria adesão, contexto e disciplina, algo que um bot não dá conta quando a volatilidade atinge o estômago do cliente.
5) O que muda no atendimento (e como se preparar)
O que será “default” da IA:
•Atendimento 24/7 para dúvidas operacionais e solicitações simples.
•Pré-análises de carteira e relatórios one-click com cenários e what-ifs.
•Sugestões de alocação baseadas em objetivos, restrições e “sinais vitais” do cliente.
Onde o humano de alto nível vence:
1.Arquitetura de objetivos: (Life first, portfolio second) traduzir “quero independência financeira” em metas, prazos, guardrails e trade-offs.
2.Enquadramento de risco: Tolerância x capacidade x necessidade (e o que muda quando nasce um filho, vende a empresa ou o dólar dispara).
3.Governança de decisões: Ritos, cadência, checklists comportamentais (o “sanduíche” de evidência + narrativa) que evitam erros caros.
4.Acesso e curadoria: Produtos privados, crédito estruturado, tax overlay, soluções patrimoniais (holdings, trust, seguros, sucessão).
5.Tradução e confiança: Saber quando dizer “não mexa agora” e quando “agora é a hora”.
Playbook para times vencedores:
•IA como copiloto, não como “estagiário que substitui gente”: padronize processos com automações e use o tempo salvo para conversas difíceis e planos de longo prazo.
•Medir o que importa: NPS/CSAT são úteis, mas inclua métricas de adesão ao plano, frequência de check-ins e comportamento em crises.
•Subir a régua técnica: política de investimento viva, risk policy explícita, tax alpha e integração com estate planning.
•Ética e transparência no uso de IA (privacidade, explicabilidade, “human in theloop”). O mercado vai premiar quem tratar dados com seriedade.
6) Conclusão: a IA amplia o spread entre bons e ruins
A IA não vai “tomar o emprego” do assessor excelente; vai dar a ele alavancas para entregar mais resultado percebido, em menos tempo, para mais clientes, porque o tempo livre migra para o que é insubstituível: relacionamento, contexto e decisão correta na hora certa. O dinheiro que ela destrava em produtividade e novos serviços é riqueza criada, não redistribuída de alguém para alguém. Para quem permanecer mediano, a IA será concorrente; para quem liderar, será vantagem injusta.
 
				 
								