Imagine duas potências com armas econômicas apontadas uma para a outra — e o mundo inteiro no meio do fogo cruzado. É exatamente isso que estamos vivendo com a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China.
O que parecia apenas mais um capítulo de tensões tarifárias virou uma batalha declarada. Os EUA subiram as tarifas para patamares recordes, e a China respondeu com ainda mais força. O resultado? Um terremoto nas expectativas econômicas globais.
Agora a pergunta que realmente importa para o Brasil é: onde a gente entra nessa história?
Impactos Diretos: Petróleo em queda, inflação em baixa
A primeira pancada que sentimos foi no preço do petróleo. O barril tipo Brent, referência internacional, despencou para o menor patamar em quatro anos.
Para o consumidor brasileiro, a consequência imediata parece positiva: combustíveis mais baratos e inflação em queda. Mas essa é só metade da história.
Com o petróleo mais barato, a arrecadação com royalties diminui. E isso afeta diretamente os cofres de estados e municípios que dependem dessa receita. Menos dinheiro público, menos investimentos. Um efeito dominó.
Agronegócio em xeque: oportunidade ou ameaça?
O setor agro brasileiro, sempre protagonista nas exportações, vive um dilema. Em momentos de atrito entre EUA e China, o Brasil costuma ganhar espaço para vender soja, milho e carne para os chineses.
Mas esse ganho é conjuntural. Se houver um acordo entre as potências — e tudo indica que isso pode acontecer —, os EUA voltam a ser prioridade nas compras da China. E o Brasil? Volta para o banco de reservas.
Hoje, estamos aproveitando a brecha. Mas e amanhã?
Recessão global à vista?
O aumento das tarifas não afeta só as cadeias de produção e exportação. Ele trava o apetite global por risco. Em outras palavras: o medo de uma nova recessão mundial cresce a cada tweet, a cada decreto, a cada retaliação.
E o Brasil, que ainda tenta se reerguer economicamente, não tem o mesmo fôlego fiscal de outrora para resistir a uma desaceleração global. Não temos uma China em expansão como em 2008, tampouco um plano interno de longo prazo para o desenvolvimento.
Menos comércio global significa menos demanda por minério, por alimentos, por energia. Ou seja, por Brasil.
E a estratégia brasileira?
Até o momento, o governo tenta manter neutralidade. Busca acordos específicos, como a isenção de tarifas sobre o aço, e evita retaliações. Isso é diplomacia tática. Mas não é estratégia.
O Brasil precisa repensar seu papel no mundo. Não podemos ser apenas exportadores de commodities em um planeta que caminha para um novo ciclo de tecnologia, acordos bilaterais inteligentes e cadeias de valor sofisticadas.
Conclusão
Estamos em um ponto de virada. Entre riscos e oportunidades, o Brasil precisa escolher o que quer ser nesse novo mundo em disputa.
Ficar à margem pode até parecer seguro no curto prazo. Mas no longo, é abrir mão de relevância, de crescimento e de protagonismo.
A guerra comercial entre EUA e China não é um problema distante. É uma faísca que pode acender — ou apagar — o futuro econômico do Brasil.